Era visivel o desespero intrínseco no discurso autoritário de Padre Jorge. Suas palavras, antes dignas de líderes ditatoriais agora soavam como a incerteza de um jovem aprendiz da vida, inseguro feito um cordeiro perdido em meio a uma miríade de lobos e hienas sedentos por carne de primeira. Os cristãos que presenciavam a cerimônia dominical não compreendiam aquele momento, tamanha estranheza gerada pelas titubeadas orais do representante da paróquia. O que teria acontecido?
Num súbito nervosismo, Padre Jorge serviu-se do Sangue de Cristo meia hora antes do previsto. Os coroinhas entreolharam-se como se soubessem de algo pecaminoso e libidinoso. Sem hesitar, o vinho que antes seria destinado a devoções católicas agora era material de consumo imediato do religioso, ignorando todos os preceitos sugeridos pela Bíblia Sagrada. O globo ocular do cidadão de Deus se encontrava rubro como o vinho recém ingerido, e em seguida Jorge se estapela no chão do altar, derrubando o Sangue do Filho de Deus nos fiéis mais próximos.
Padre Jorge aparenta estar morto. A multidão entra em desespero, abandonados à espera de um feito divino. Seu corpo, de bruços na escada do altar, recebia a iluminação dos vitrais da igreja, resultando numa imagem quase angelical, não fosse o corpo azulado e putrefato de Jorge. Um fiél, ao virar o corpo do sacerdote, constatou algo no mínimo inquietante: debaixo da batina, um cinturão de garrafas das bebidas alcóolicas mais caras e exóticas, além de cinturões de drogas ilícitas. Neste momento um dos coroinhas, também com os olhos vermelhos, corre em direção ao padre e clama por sua vida com tamanha devoção que causou silêncio no recinto.
O garoto retira alguns dos itens secretos do Padre, enquanto observado pelos populares e se dirige ao altar, em prantos. A multidão, atônita, observa em silêncio o infante bradar ao além: "HEREGES! SUCUMBAM ÀS SUAS HIPOCRISIAS! MALDITOS SEJAM!". O garoto bebe um gole do líquido verde de uma das garrafas do Padre, onde vários deduziram ser um fortíssimo licor de absinto. Começou a se despir, pegou a Bíblia mais próxima e, com uma ereção invejável, leu trechos em uma pronúncia irreconhecível. As religiosas senhoras não sabiam como reagir: o garoto sempre fora um exemplo de pessoa, respeitável em todos os seus aspectos. Educado, simples e atencioso.
Despejou uma carreira de cocaína em uma cruz próxima e inalou com força e quantidade o suficiente para lhe causar uma overdose instantânea. Resistiu. Despejou o restante das bebidas em seu corpo nu e também na Bíblia que segurava, caminhando em direção ao candelabro que se situava dois níveis acima. Ateou fogo em seu próprio corpo, segurando o livro sagrado enxarcado pela bebida, enquanto urrava de dor e lia uma passagem específica. Carbonizou bêbado e drogado.
Constatou-se, alguns minutos depois, que o Padre morreu ejaculado e ereto. Os fiéis nunca mais dormiram tranquilamente após o acontecido.
"Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos" Filipenses 4:4
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
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