quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Sem rumo

Esperança corria, seus pulmões ardiam, cada respiração um suplício, suas pernas gritando a cada passada, o corpo inteiro em dores, a salíva espessa na boca, a sede assassina.

Mas Esperança corria, mente sobre o corpo. Apenas a vontade de viver a mantinha em movimento. Ela já não sabia que distância havia percorrido, por quanto tempo correra, mas sabia que não poderia parar.
Sentia os perseguidores incansáveis em seu encalço. Não ousava olhar para trás, um descuido, um desequilíbrio, um tropeço, e estaria morta.

O mundo ao seu redor somou-se ao seu corpo na luta para faze-la parar, adicionando obstáculos como os galhos de árvores que chicoteavam sua pele, no  corpo inteiro, as raízes das árvores, que agarravam-se a seus pés, os espinhos da mata, que fustigavam seu corpo e agarravam-se a suas roupas. O temporal, fazendo-a escorregar e quase cair.
Tudo isso e as dores, as inclementes dores que percorriam seu corpo inteiro, as câimbras, as torções, os arranhões, a exautsão.

Mas ela não podia parar.



Ou podia?

Parar não parecia mais uma escolha imbecil, precisava descansar afinal, não podia mais continuar. Só por alguns instantes, para recuperrar o fôlego.

E então, sem mais, ela parou, encostou a palma da mão em um carvalho antigo, sentindo a aspereza do tronco em sua pele, a camada de fungo esfacelando-se sob o peso da mão.
Respirou profundamente, absorvendo todo o ar que podia, desesperada como um afogado, enchendo os pulmões de júbilo e de dor devido ao esforço descomunal. A torrente de água da chuva tamborliva sobre seu cocoruto, e escorria por sua pele em riachos até os cantos de sua boca, e ela nem mesmo percebeu que estava sorvendo daquela dádiva dos céus.


E foi então que alcançaram-na, e foi assim que Esperança morreu.

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