sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O fim do consumismo.

Você estava deitado na cama do hospital, todo perfurado por agulha e tubos, e apenas as máquinas o separavam da morte, o quarto, onde apenas você jazia, estava escuro, em contraste com o corredor iluminado, por onde passeavam os seguranças do hospital.

Seu desejo é andar, mas faziam anos que suas pernas rechonchudas não o erguiam mais, na verdade, fazia tanto tempo que você nem lembrava mais como era andar, muito menos correr; cada perna pesando 60Kg, e as veias entupidas de pus e gordura, seu corpo não passava de carcaça mantida viva apenas pelos cuidados alheios.

Com algum esforço você ouve murmúrios do lado de fora do quarto, e observa uma sombra chegando mais perto, e então no vão da porta você vê uma silhueta, irreconhecível a princípio, mas assim que o ser deu dois passos a frente você o reconheceu como Ronald Mcdonald, e nesse mesmo instante Ronald saca uma faca, você aperta o botão que por anos usou para chamar as enfermeiras para limpar sua bunda, já que você não a alcançava.

Ronald então sobe na sua cama, com um olhar calmo, como se isso fosse tarefa cotidiana, você se desespera, tenta berrar, mas apenas gemidos e grunhidos saem do tubo em sua boca, com os olhos arregalados de puro pavor você procura pelos seguranças na porta, eles estão lá, mas tudo que eles fazem é fechar a porta, tornando o quaro ainda mais escuro.

O desespero toma conta, e você tenta, em vão, se livrar do palhaço que está sobre você, mas suas pernas não obedecem, apenas a banha se meche como gelatina, você sente Ronald se aproximando, e tudo que você consegue fazer para salvar sua vida é chorar e balançar a cabeça, e então lentamente a faca entra em seu coração enquanto você respira cada vez mais rápida e brevemente, Ronald aproxima-se e apenas sussurra "Shhh, Shhhhh, Shhhh, já vai passar", e por falta de forças, sua respiração vai diminuido, até que som algum emane de seu corpo, e seu olhar fique vidrado em algum ponto no teto do quarto.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

"M" de "Fudeu!"

Penélope Cruz disse, certa vez, após assistir Zorra Total, num sábado em que não foi a Miami:

MUNDO MODERNO

Mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras, modificando maneiras, mascarando maracutaias, majestoso manicômio. Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, morticínio - maior maldade mundial.
Madrugada, matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna. Monta matungo malhado munindo machado, martelo, mochila murcha, margeia mata maior. Manhãzinha, move moinho, moendo macaxeira, mandioca. Meio-dia mata marreco, manjar melhorzinho. Meia-noite, mima mulherzinha mimosa, Maria morena, momento maravilha, motivação mútua, mas monocórdia mesmice. Muitos migram, macilentos, maltrapilhos. Morarão modestamente, malocas metropolitanas, mocambos miseráveis. Menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo. Metade morre.
Mundo maligno, misturando mendigos maltratados, menores metralhados, militares mandões, meretrizes, marafonas, mocinhas, meras meninas, mariposas mortificando-se moralmente, modestas moças maculadas, mercenárias mulheres marcadas. Mundo medíocre. Milionários montam mansões magníficas: melhor mármore, mobília mirabolante, máxima megalomania, mordomo, Mercedes, motorista, mãos... Magnatas manobrando milhões, mas maioria morre minguando. Moradia meia-água, menos, marquise.
Mundo maluco, máquina mortífera. Mundo moderno, melhore. Melhore mais, melhore muito, melhore mesmo. Merecemos. Maldito mundo moderno, mundinho merda.

Chico Anysio

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Ode à desordem

Faço parte da multidão esfacelada.
Admiro a ebriedade, o escárnio e a libertinagem.
Faço das bolas, instrumento hedonista.

Gosto de você.

Mas te quero morto. Submerso em uma vasilha de caninha 51.

Seria uma boa idéia.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Uma viagem do baralho - Parte I

Era o último dos dias de aulas noturnas naquela semana. A aura de expectativa pairava sobre dezenas de jovens mentes que adoram se auto-pronunciar "criativas". Tolos esperançosos, digo eu. O conteúdo acadêmico daquela sexta-feira marcante seria ignorado com louvor em prol de um bem maior: o clássico devaneio etílico disfarçado de capacitação profissional. Interesses em comum ocupariam o mesmo teto sob rodas dentro de alguns instantes. Publicitários ébrios e inconseqüentes fariam da BR-101 a sua festividade máxima daquele já finado semestre.

Pouco faltava para a partida do ônibus e os preparativos tinham que ser agilizados. Deslocamo-nos à drogaria mais próxima a fim de comprar a salvação de muitos boêmios descontrolados: o engov. Ao retornar, assentamo-nos em nossos lugares e observamos, de cima, casais apaixonados se despedindo, onde as partes que não embarcariam na cruzada clamavam por fidelidade. Partimos.

Ainda dentro dos limites geográficos de nossa cidade, abrimos garrafas do melhor vinho a cinco reais já criado, cultivado em campos largos na região sulina da nossa terra brasilis. Compartilhamos (ou tentamos compartilhar, não me recordo ao momento) alguns copos com algumas das donzelas simpatizantes que se encontravam próximas a nós. Degustamos e regozijamos com louvor o elixir sagrado de Baco, sentindo em poucos minutos o efeito inebriante como conseqüência. A ignição havia sido ativada, não havia mais retorno.

Conversas ainda comportadas, porém divertidas, eram a ordem no momento. Triálogos - e porque não quadriálogos ou pentálogos - sobre o injusto e falso mundo da publicidade e outros assuntos hoje dispensáveis fizeram a pauta por diversos minutos. Até que, uma parada em uma metrópole mudou totalmente o curso da viagem. Alguns dos viajantes carregavam em compartimentos secretos uma planta que fez parte de diversas civilizações antigas e proeminentes (não fosse a falácia física e brutal de colonizadores europeus). Hoje em dia, tal artifício para sair da realidade é marginalizado pela grande mídia, e até com um pouco de razão. O problema é que isso é mero interesse corporativo, mas não vem ao caso. Ao descermos do ônibus para saciar a nossa necessidade estomacal, tal iguaria foi consumida por diversos integrantes da expedição, resultando em insanidade instantânea.

Toneladas de tetraidrocanabinol haviam sido inaladas pelas jovens mentes de classe média. Risadas e momentos de descontração involuntários ocorriam simultaneamente com vários estudantes. O ônibus havia partido e todos lá estavam, aproveitando o máximo daquela ida inconseqüente. Rodas de improviso musical aconteciam, com ênfase no estilo afro-americano de rimas, e mesmo quem não detinha talento e experiência o suficiente para tal atividade participou com louvor. O tempo foi passando, porém não o efeito amortecedor das substâncias consumidas. Alguns dos usuários, por vezes, criavam momentos acidentais de discórdia, fazendo brincadeiras socialmente inaceitáveis para alguns dos viajantes, resultando em desavenças públicas e, como relatado, agressões físicas. É de conhecimento geral da trupe mochileira de que um dos indivíduos lesionou a testa de outrem devido a brincadeiras de cunho sexual. A brincadeira em questão não denotava intenções carnais, porém tal fato não foi compreendido pela vítima da peraltice. Professores se incubiram de apaziguar o ambiente e após alguns momentos tudo se demonstrava normalizado.

Aquele que proferiu brincadeiras sexuais acabou por exagerar na ingestão de bebidas alcoólicas, dando o popularmente chamado "PT". E não, amigos, não estamos falando do amado e odiado Partido dos Trabalhados, mas sim da "Perda total", onde alguém desaba em sua própria infelicidade física e despeja os resquícios nojentos de sua última janta no chão do ônibus em movimento. Porém aqui o problema era mais grave. O "perdido total" exauriu todo o conteúdo estomacal em sua própria indumentária, causando asco a todos os cidadãos de bem que circundavam o pobre rapaz. A noite havia acabado, pelo menos para ele.

Ao chegar a maior metrópole deste nosso estimado país, o "perdido" acordou com duas desagradáveis surpresas: além de perceber vômito fresco em sua única blusa, viu que o infeliz que o havia socado no meio da madrugada hibernava no acento ao seu lado. Não fosse o engov, o "perdido" chafurdaria em sua infeliz inconseqüência, porém graças à medicina milagrosa, ele saltitou vomitado e feliz em meio à sociedade estudantil publicitária de São Paulo, com as mais belas garotas o olhando e com professores reprovando tal atitude.

Era o início de um belíssimo final de semana.

Incubo o outro integrante deste blog a escrever a segunda parte desta viagem. Ou, quem sabe, um outro olhar sobre os acontecimentos acima.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Decisões

O táxista era um senhor muito simpatico e educado, mas dirigia devagar, Thiago, porém, não se importava com a velocidade, os últimos anos só mostraram que dar tempo ao tempo era a chave para a felicidade.

Faziam 6 anos que ele e Camila tiveram um filho, Hugo, em homenagem ao avô de Thiago, Hugo não fora previsto nem calculado, mas até o sexto mês o casal já amava o pequenino, e tinham certeza de que todos os problemas seriam resolvidos.

A primeira impressão Hugo nascera perfeito, porém os médicos constataram um doença cerebral incomum, que poderia causar disturbios psicológicos no futuro, e então desde os primeiros dias Hugo fora submetido a diversos tratamentos caríssimos, devido a raridade da doença, e traumaticos para a familia, pois os ataques era fulminates, com apenas 2 anos Hugo, enquanto afetado pelos ataques, hurrava feito um homem completo, ensandecido pela fúria e loucura, enquanto causava males a tudo e a todos que cruzavam seu caminho, Perry, o cachorro de Thiago, teve de ser sacrificado, pois sofria muito desde que Hugo, em um de seus ataques escalpelara partes do cão, deixando-o em carne viva.

Mas depois de anos de tratamento Hugo já era uma criança normal, e a isso Thiago agradecia a Deus todos os dias, e, depois de uma semana viajando a negócios, tudo que ele queria era voltar ao lar.

Hugo após terminar seu copo de leite com negresco anunciou:
- Mãe, quero fazer cocô.
Ao que Camila, com um olhar angelical disse:
- Vem.
Hugo, que sabia o que era bom da vida, recuou três passos e retrucou:
- Só se for na casa do pedrinho!
Camila, incrédula levantou a voz
- QUÊ? Tu vai fazer aonde der, não posso te levar na vizinha para fazer cocô!!
-Mas mãe só faço se for lá
-Então segura para sempre, porque no pedrinho cagar você não vai, e ponto final.

Hugo, revoltado arriou as calças e cagou ali mesmo, na sala de TV, em cima do tapete de pelos, decoração que Thiago mais amava, Camila não pensou duas vezes, e espancou Hugo aos brados:
- Quem você pensa que é pra decidir aonde cagar moleque? Tudo que é dos outros é melhor não é? Mas eu vou te ensinar a dar valor para as coisas da Família, você vai ver!!!
E não parou de bater, mesmo quando Hugo implorava, chorando e sangrando.
Só parou quando a mão de 6 anos de idade segurou o braço dela, e voz que veio de Hugo já não era mais afável.

"SUA PUTA ESCROTA, EU CAGO AONDE EU QUISER E QUANDO EU QUISER, VADIA DO CARALHO VOU COMER TEU CÚ ENQUANTO TU CHORA"

E pulou para cima da mãe, que desequilibrou-se e caiu, para glória de Hugo, que socava a mãe com gosto, e quando as mãos começaram a doer, começou a espremer os olhos da mãe para dentro do cranio, e Camila urrava de dor e desespero, pedindo ajuda de Deus, Cristo, Maria e José, mas nenhum deles veio, havia apenas a dor.

E o barulho ovos quebrando soou, quando os olhos de Camila finalmente cederam a força da pressão de Hugo, que saboreou o sangue que jorrou em seu rosto, a mãe estava inerte agora, e ele pegou suas fezes e esfregou no rosto da mulher no chão.

"cago onde quiser, vadia."

Thiago sorriu ao ver a esquina que tanto conhecia, ali era seu lar, e lá dentro encontraria sua família feliz.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Fiéis infiéis

Era visivel o desespero intrínseco no discurso autoritário de Padre Jorge. Suas palavras, antes dignas de líderes ditatoriais agora soavam como a incerteza de um jovem aprendiz da vida, inseguro feito um cordeiro perdido em meio a uma miríade de lobos e hienas sedentos por carne de primeira. Os cristãos que presenciavam a cerimônia dominical não compreendiam aquele momento, tamanha estranheza gerada pelas titubeadas orais do representante da paróquia. O que teria acontecido?

Num súbito nervosismo, Padre Jorge serviu-se do Sangue de Cristo meia hora antes do previsto. Os coroinhas entreolharam-se como se soubessem de algo pecaminoso e libidinoso. Sem hesitar, o vinho que antes seria destinado a devoções católicas agora era material de consumo imediato do religioso, ignorando todos os preceitos sugeridos pela Bíblia Sagrada. O globo ocular do cidadão de Deus se encontrava rubro como o vinho recém ingerido, e em seguida Jorge se estapela no chão do altar, derrubando o Sangue do Filho de Deus nos fiéis mais próximos.

Padre Jorge aparenta estar morto. A multidão entra em desespero, abandonados à espera de um feito divino. Seu corpo, de bruços na escada do altar, recebia a iluminação dos vitrais da igreja, resultando numa imagem quase angelical, não fosse o corpo azulado e putrefato de Jorge. Um fiél, ao virar o corpo do sacerdote, constatou algo no mínimo inquietante: debaixo da batina, um cinturão de garrafas das bebidas alcóolicas mais caras e exóticas, além de cinturões de drogas ilícitas. Neste momento um dos coroinhas, também com os olhos vermelhos, corre em direção ao padre e clama por sua vida com tamanha devoção que causou silêncio no recinto.

O garoto retira alguns dos itens secretos do Padre, enquanto observado pelos populares e se dirige ao altar, em prantos. A multidão, atônita, observa em silêncio o infante bradar ao além: "HEREGES! SUCUMBAM ÀS SUAS HIPOCRISIAS! MALDITOS SEJAM!". O garoto bebe um gole do líquido verde de uma das garrafas do Padre, onde vários deduziram ser um fortíssimo licor de absinto. Começou a se despir, pegou a Bíblia mais próxima e, com uma ereção invejável, leu trechos em uma pronúncia irreconhecível. As religiosas senhoras não sabiam como reagir: o garoto sempre fora um exemplo de pessoa, respeitável em todos os seus aspectos. Educado, simples e atencioso.

Despejou uma carreira de cocaína em uma cruz próxima e inalou com força e quantidade o suficiente para lhe causar uma overdose instantânea. Resistiu. Despejou o restante das bebidas em seu corpo nu e também na Bíblia que segurava, caminhando em direção ao candelabro que se situava dois níveis acima. Ateou fogo em seu próprio corpo, segurando o livro sagrado enxarcado pela bebida, enquanto urrava de dor e lia uma passagem específica. Carbonizou bêbado e drogado.

Constatou-se, alguns minutos depois, que o Padre morreu ejaculado e ereto. Os fiéis nunca mais dormiram tranquilamente após o acontecido.

"Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos" Filipenses 4:4